A fotografia em sua história, começa a ser comercializa após a invensão do Daguerreótipo, processo fotográfico que grava a imagem num papel permanentemente. Mas passou a ser popularizada, apenas após a empresa Kodak lançar câmeras menores com a utilização de filmes fotográficos. Antes disso alcançava somente pessoas de alta classe monetária, que tinham condições de contratar um profissional. Ainda assim, mesmo após a possbilidade da reprodução das imagens e o acesso a câmera fotográfica para leigos, a fotografia ainda era cara. A geração Y que começou de fato a ter as suas infâncias registradas, que hoje são guardadas em álbuns e caixas de sapato na casa dos pais.
Nesta época a fotografia era valiosa, pelo menos na minha família. Ainda de filme, a câmera estava sempre nas mãos do meu pai. Ele quem registrava tudo e depois revelava. Ninguém via, ninguém mexia, era valioso demais: "Lava as mãos e não encosta no papel, vai ficar a marca dos dedos", ele dizia.
Lembro do meu primeiro ensaio, eu tinha por volta de 4 ou 5 anos, fomos de Cachoeirinha até a capital Porto Alegre. Eu não sabia muito bem o que ia acontecer, estava nervosa. Quando chegamos lá havia uma mulher, muitas luzes e uma arara cheia de roupas e fantasias. Eu queria a da Minnie mas não cabia em mim. Me lembro que tudo era confuso, não sabia o que fazer e estava frustrada pois não poderia vestir o que eu queria.
O tempo passou, meu pai agora escaneava cada foto impressa para o computador e guardava nos HDs. Eu pegava em cima do guarda-roupa a câmera digital e levava escondido para a escola para tirar fotos das amigas, fazia minhas selfies e postava no Orkut. De vez em quando, procurava as relíquias do meu pai e achava as fotos do meu primeiro ensaio, do meu batizado, do meu nascimento.
As crianças de hoje em dia tem fotos sobrando, soterradas de imagens todo tempo. Será estranho se uma delas olhar para trás e não ver cada suspiro registrado em alguma nuvem digital, que guardará, até onde for possivel, cada momento de sua vida. A fotografia cotidiana se desmancha a cada novo clique, mas ela renasce toda vez que uma mãe viaja na cronologia do seu rolo de câmera do celular e acha a foto de 1 ano atrás, e então para pra perceber o quanto seu bebê cresceu e se faz em nostalgia.
Nos dias de hoje, os que tem mais dinheiro guardam uma quantia para registrar o aniversário ou o ensaio com um fotógrafo profissional, na esparança de poder congelar o rostinho da criança que dali três dias já aprendeu algo novo ou cortou a franja com a tesoura que achou no banheiro. Quando se fala de infância o tempo é o maior aliado e inimigo.
Por ver meu pai dando tanto valor ao que dizia respeito às imagens, cresci com a vontade de ser fotógrafa. Logo nos primeiros cursos, ainda no ensino médio, mostrava facilidade em fotografar crianças: "olha só, temos uma ótima fotógrava de crianças aqui", disse o professor na frente de todo mundo, ao ver o exercicío prático que fotografei numa festinha infantil que fui com meus pais no fim de semana.
Hoje por vezes me pergunto, como profissional, se a fotografia ainda faz sentido. Sinto que com a internet, 3 dias se tornam passado distante e o "assunto" não é mais quente o suficiente. A prévia do cliente precisa vir em 24hrs para conseguir postar rapidamente, se não pode perder engajamento e - consequentemente - o sentido.
Mas o pensamento logo se vai quando lembro da fotografia infantil, do tempo que passa e ainda temos guardadas as fotos do ensaio que um dia tanto quis que fosse de Minnie, mas que anos depois se tornou dos bichinhos da Parmalat. Lembro dos encontros pela cidade com as crianças que fotografei anos atrás, das amãe ainda lembra de mim e tem a fotografia na geladeira. As fotos que eu clicar vão guardar no coração da mãe o tempo que não segura mais.
A fotografia ainda é valiosa.